Sr. Santos Chagas [Santos Rodrigues Pereira]

Quando o Sr. Santos Chagas propôs a realização do Nove no salão de sua venda em Jenipapo, como uma espécie de retribuição ao Nove realizado meses antes em Machado, entendi algumas coisas importantes sobre reciprocidade no âmbito do Brinquedo, que remontavam às trocas que havia entre os lugares de origem dos cantadores: Lagoa da Chamexuga (da família Rodrigues-Alves, com o Sr. Deca e D. Antônia, entre outros) e o Ribeirão do Bosque (onde nascera e residia o Sr. Santo). Aquele Nove seria apenas o primeiro de que eu participaria, em seu salão, durante a pesquisa. Sempre preparado com a ajuda da querida filha Nielza e as netas, o que incluía ornar cuidadosamente, e amorosamente, aquele salão…

Próximo às águas do Ribeirão do Bosque nascia, nos primeiros dias de julho de 1941, um menino, Santos Rodrigues Pereira. Filho de Joaquim Chagas, e Antônia Rodrigues. Um, dentre dez irmãos. Maria Marques, parteira que costumava apanhar as crianças naqueles arredores, foi quem realizou o parto.

Santos mexeria com roça, e com algum gado. Veria o pai e o tio, José, cantarem e tocarem noite adentro em Brinquedos memoráveis, mas cresceria sem participar, como cantador, daqueles Noves da vizinhança. Sr. Santo se casou em São Paulo, capital, com uma moça que morava em uma comunidade próxima àquele ribeirão que margeava o povoado do Bosque – Maria, nascida em São João. Na cidade, ele foi ajudante de cozinha, balconista, e se tornou um padeiro de mão cheia.

Mais velho, seria cantador, vez ou outra lembrando-se daqueles Brinquedos memoráveis da vizinhança, na infância, em que o pai e o tio tocavam, noite adentro. Ocasionalmente, Santos realiza, no salão da venda que possui, enfeitados e animados Noves: papéis coloridos, cortados e justapostos por algumas mulheres, são dependurados no teto. E balançam, ao som das vozes que tomam o salão, noite adentro.