Sr. Roxo [Joaquim Mota de Sousa]

Na imagem, vemos o cantador Roxo Mota ao lado da querida esposa Ione e da neta Julia. Quando eu os visitava, no decorrer da pesquisa, eles seguiam conversando comigo com suas vozes macias, suaves, e muitas vezes eu ficava ali tomando um café, um chá, apreciando o competente trabalho do Sr. Roxo com as madeiras – com as quais ele construiu inúmeros móveis da casa – ou mesmo acompanhando-os assistir a um programa de oração na tv. Serenidade na casa de portas verdes.

No mesmo ano em que nascia Ana, e a cerca de meia légua dali, no Setúbal, chegava à casa dos Mota o menino Joaquim, Roxo. Ele já tinha cinco irmãos, e todos seriam cantores no Nove, assim como o era a mãe, Maria. Um casal de tios de Deca, Ana e Antônia, que moravam na Chamexuga, seriam seus padrinhos de batismo.

Roxo cresceu entre as capinas de roça, nas quais os homens entoavam cantigas sob a percussão compassada do bater das enxadas. Desde cedo começou a usar as canabravas que havia perto de casa para fazer cestos e peneiras. Também as madeiras, como o tamburi e o pau de colher. Moldava então gamelas, colheres, tachos para rapadura, e depois portas, camas, mesas, e também cercas – tornou-se carapina, carpinteiro.

Começou a cantar naqueles Brinquedos que sempre eram realizados na Lagoa, e lembra-se de cantigas que pôde ouvir ali: “Tem quatro coisa nesse mundo que anda só”, disse ele um dia, perguntando em seguida: “E o que você acha que é o arremate dela?! É o dia, e a noite, e a lua, e o sol’. Não é fácil? É um nove”.