Neide [Maria Neide Pinheiro de Sousa]
Não nos encontrávamos tanto, já que Neide não reside em um povoado e vai apenas ocasionalmente à pequena cidade vizinha, mas tive a oportunidade de passar alguns dias em sua casa, quando tentei ajudá-la a assar biscoitos, deliciosos, e participei de uma bonita Novena, em que ela, a irmã Luca e outros participantes rezavam cantando. Também presenciei seus cuidados com a horta que margeia o rio, enquanto conversávamos sobre o Nove, sobre cantar, e muitos outros meandros da vida. Os Noves eram os pontos de encontro certeiros que tínhamos.
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Neide e Luca (foto ao lado) são as filhas mais velhas de Ana. Em setembro de 1959, Vó Senhorinha apanhava Neide. Cerca de um ano e meio depois, por intermédio da mesma parteira, Ana ganhava mais uma filha, e Neide, a primeira irmã, Luca.
Ambas nasceram próximo à casa construída nos já longínquos anos da década de 1920 pelos bisavós Antônio Cesário e Aninha. Naquele tempo, havia a casa deles e a da irmã de Antônio Cesário, e agora o pequenino povoado contava com seis casas: alguns filhos tinham se casado e construído ali suas moradias, como Ana.
Neide teve bexiga (varíola) ainda bebê, e como desconfiaram que ela poderia não sobreviver, foi batizada em casa mesmo, sobre a folha de uma bananeira, nos primeiros dias de vida. Depois, com a presença de um padre, recebeu novamente o batismo.
Ela e a irmã Luca também fizeram suas bonecas de pano e sabugo de milho, e cozinharam com as panelinhas de barro da “tia Maria”, mãe de Antônia. Na lagoa das sanguessugas, buscaram água em potes, de onde voltavam equilibrando-os, cheios, sobre a cabeça. Ainda bem novas, a mãe lhes dava uma pequena lata, cheia de água, para carregarem alguma pequena distância (eu as vi carregando latas de 20 litros sobre a cabeça, cheias de água, e agacharem-se e levantarem-se para passar uma cerca sem encostar a mão nelas, ou tocando-as vez em quando, e levemente).
Desde crianças, viram a mãe, muitos dos tios, avô, e outros parentes, cantarem e dançarem com frequência os brinquedos do Nove. São grandes companheiras da mãe nas cantorias do Brinquedo, somando suas “vozes de cigarra” à dela. “Na hora de responder o nove [a canção], as menina fica: ‘ô mãe, como, mãe?’ Eu falo: ‘na hora de vocês ver eu cantar, vocês acompanha!’”.