Nair [Nair Fernandes Ramos]
Filha do cantador Valdomiro, Nair é uma exímia cantadeira, capaz de jogar versos seguidamente, por muito tempo… Quando telefonei na comunidade de Machado, no princípio de 2008, quem atendeu o telefone público foi o Sr. Eurico, sogro de Nair. Eu expliquei sobre a intenção de realizar a pesquisa sobre as danças coletivas musicais (eu já havia trabalhado na região a partir de uma ONG e conhecia um pouco das danças), e ele então me disse que lá, todo ano, tinha Nove na festa de Bom Jesus, padroeiro do lugar. E disse que poderia passar o telefone para a nora dele, que cantava no Brinquedo.
Nair então veio falar comigo. Eu conversei com ela sobre a intenção da pesquisa, como ela seria realizada, e perguntei se eles tinham uma associação comunitária em que pudessem discutir sobre a realização do trabalho. Liguei algum tempo depois, após a reunião da Associação, e ela me disse que eles tinham aprovado, que eu poderia ir, e que ficaria hospedada na casa de Sr. Eurico e D. Diva, a querida esposa do Sr. Eurico, que além de sogros são vizinhos de Nair. Foi assim então que eles, além da querida Maria e Nair tornaram-se meus prestimosos anfitriões por muito tempo.
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Quando Valdomiro tinha 30 e poucos anos, sua esposa, Maria – que tinha sido vizinha dele na barra do Ribeirão do Granja – deu à luz a quarta filha do casal. Nair nasceu a muitos e muitos quilômetros da terra natal dos pais: no estado do Paraná, amparada pelas mãos de Mãe Rosa, parente de um irmão do pai. A família tinha se mudado para lá alguns anos antes, para trabalhar com lavoura de café.
Desde menina, ela ajudava nas labutas da terra. Por anos a fio, arribou garapa de cana, para fazer rapadura, e torrou massa de mandioca, produzindo grandes quantidades de farinha. Também capinou muita roça. Seus movimentos ligeiros no trabalho são conduzidos pelo som da sua própria voz, emitida de forma vigorosa: “minha vida toda é trabalhar cantando”.
Nair só viria conhecer o Nove quando chegasse à terra de onde os pais tinham saído. Mas os treze anos que viveu sem ter visto um Brinquedo não a impediriam de saber os incontáveis versos que sabe e de proferi-los em alto e bom som nos Noves de que participa.
Ela é comadre do cantador Toninho.