D. Gê [Geralda Martins Soares]

Parteira e benzedeira de mãos talentosas, além de contadora de histórias, dona Gê está em minha vida desde 2002, quando eu trabalhava como assessora de uma ONG na região. Lá fiquei até 2004 e, após três anos, quando voltei para a realização da pesquisa de mestrado, encontrei-a dentro de uma agência bancária, logo nos primeiros dias. Ela me convidou para ficar na casa dela quando fosse à cidade onde mora, e assim ela e sua tão querida família se tornaram uma importantíssima referência para mim, além de uma das minhas anfitriãs.

No decorrer da pesquisa, a convivência com d. Gê, permeada por conversas mais íntimas e muitas risadas, era um momento/lugar em que eu descansava um pouco dos afazeres de pesquisadora, mesmo que essa convivência me mostrasse muitas coisas importantes sobre estes afazeres. Caminhar ao lado dela é vê-la sendo saudada todo o tempo: “Bença, mãe”, “Bença, vó”… E ela me explicava que tinha “pego” esses que a saudavam, quando eles nasceram – tinha sido parteira nos partos deles.

Um dia, caminhando, uma conversa que presenciei entre ela e outra moça, cheia de metáforas que faziam referência a pássaros, me ajudou a pensar sobre o repertório de cantigas do Nove e muito da própria estruturação do Brinquedo.

Ela é uma sábia, conhecedora de inúmeros meandros da vida, mesmo tendo me assegurado certa feita que “ninguém conhece o segredo do mundo”. Também me ensinou que “coração é terra que ninguém vai” e muitas outras coisas sobre os modos de proceder do ser humano…

Quando a reencontrei recentemente, e sempre, se despede me abençoando com palavras que parecem cobrir meu corpo: bonitas, benfazejas.