D. Ana [Ana Alves Rodrigues]

Quando fui com D. Ana e a prima Antônia conhecer o rio Setúbal e, mais especificamente, as locas onde, mais novas, elas lavavam roupas, comentei que o rio era bonito. Não estávamos em período de chuva naquela região já de semiárido e então ela prontamente disse, com um suave sorriso no rosto que parecia sinalizar uma lembrança: “Rio bonito é rio cheio”. No decorrer da pesquisa, D. Ana mudou-se para outro estado, onde já habitavam alguns de seus filhos, e então nos encontrávamos especialmente na Festa de Bom Jesus em Machado, quando tantos outros encontros e reencontros se dão. Ela sempre com uma alegria discreta, cantando noves e jogando versos.

Oito anos antes de Deca nascer, ele já havia ganhado uma irmã: Ana. Primeira filha mulher dos primos Geraldo e Geralda, e segunda dos sete que o casal teria.

Ana era uma das meninas que limpavam os passarinhos que os meninos traziam. Aos domingos, ela, as primas e irmãs seguiam para um moiteiro próximo a suas casas empunhando as bonecas de pano que as tias ou mães tinham feito, ou que elas mesmas conseguiam compor – o rosto das bonecas tinha os olhos, a boca e o nariz marcados à linha. Elas também podiam ter bonecas de milho, que faziam ao envolver o sabugo com algum pedaço de tecido. As meninas batizavam mutuamente suas bonecas. E visitavam, com suas “filhas”, as casas das comadres, para que aquelas pudessem pedir a benção das madrinhas. Ana, as irmãs e primas lavavam roupas no rio Setúbal, a cerca de meia légua dali, em grandes bacias que as pedras à beira do rio formavam. E quando a Lagoa da Chamexuga secava, com a pouca chuva, iam todos os dias ao Setúbal apanhar água para usos diversos, como banho e cozinha. Iam montadas.

Quando foi crescendo, Ana se interessou pelo aprendizado da viola, mas depois preferiu o cavaquinho – um homem que tocava este instrumento, “Clemente Pagão”, ensinou-lhe algumas lições. A canção que embala uma das brincadeiras do Nove (o Vilão) podia ser tocada pela cantadeira em um pequeno cavaquinho.